Cuidados em fim de vida: uma discussão necessária

14/11/2017

Tivemos o prazer de participar e aprender muito nos dias 9 e 10 de novembro com a Associação Nacional de Gerontologia - SC do IX Encontro Catarinense de Gerontologia e IV Seminário sobre envelhecimento e institucionalização. Em Florianópolis foram dois dias de intensas discussões sobre a realidade das Instituições de Longa Permanência para Idosos. A Dra. Michelle Clos apresentou dois trabalhos sobre diferentes dimensões do envelhecimento, o primeiro resultado da tese de doutoramento que aborda a questão dos cuidados em fim de vida de idosos institucionalizados, e o segundo, com resultados do trabalho de extensão universitária com os vínculos de afeto pós-institucionalização do Idoso. 


CUIDADOS NO FIM DA VIDA DE PESSOAS IDOSAS INSTITUCIONALIZADAS: UM INVESTIMENTO POSSÍVEL

Michelle Bertóglio Clos

Introdução: Abordar a temática dos cuidados no fim da vida no contexto das Instituições de Longa Permanência para Pessoas Idosas (Ilpi) é adentrar no campo da qualidade de vida nos últimos anos destes sujeitos. Há um silêncio sobre a morte nestes locais que nos remetem a alguns pontos de reflexão: um deles é sobre a condição de mortalidade numa Ilpi e o outro é a própria questão do valor/custo do cuidado. Ousamos afirmar que o foco das pesquisas com pessoas idosas está nas dimensões hospital/comunidade, bem como nas políticas públicas de atenção a esta população. Mas, anterior à morte está o cuidado e as estruturas que são disponibilizadas às pessoas idosas em processo de morrer, assim como a filosofia presente no cuidado. Objetivo: compreender como vem sendo implementado os cuidados no fim de vida em Instituições de Longa Permanência para Idosos na região metropolitana de Porto Alegre. Metodologia: Este é um estudo de natureza descritiva e abordagem qualitativa, resultado da pesquisa de doutoramento da autora, no qual foram selecionadas para compor o universo de pesquisa 6 instituições em 6 municípios da região metropolitana, incluindo a capital Porto Alegre. Foram entrevistados 19 sujeitos do corpo técnico e 13 responsáveis/familiares pelos idosos institucionalizados, num total de 32 sujeitos. Neste sentido, buscou-se investigar se as Instituições de Longa Permanência para as pessoas Idosas estão estruturadas para reconhecer as necessidades de cuidados que garantam conforto e dignidade no processo de morrer de seus residentes. As categorias centrais deste estudo foram delineadas a priori: cuidado, integralidade, individualidade, vínculos e espiritualidade. Resultados: As unidades de registro mais frequentes nas entrevistas foram Higiene (53,8%) seguidas de Dignidade, Não respeito à individualidade do idoso, Medicação e Alimentação (46,2% cada). Para os técnicos o cuidado é associado ao afeto (57%). Sobre as formação e capacitação profissional, 73% dos técnicos informam não terem formação específica na área do idoso e 57,9% desconhecem o que são os cuidados paliativos. Em contrapartida, 84,2% dos entrevistados afirmam possuir condições adequadas de trabalho para o cuidado. A partir da análise do conteúdo das entrevistas e das observações de campo, pode-se evidenciar que há precariedade nestas estruturas de acolhimento e desconhecimento da filosofia de cuidados paliativos e cuidados em fim de vida. Conclusões: Por haver fragilidade na efetivação do cuidado, há compensação das dificuldades estruturais com o discurso do afeto por parte da equipe técnica. Também se identificou uma relação entre cuidado de boa qualidade e disponibilidade de recursos financeiros, demonstrando indicativos para a reificação do cuidado, ou seja, o cuidado enquanto mercadoria a ser comercializada.